CULTURA AFRICANA

CULTURA AFRICANA

Afrodescendentes representam mais de 80% da população na Bahia
O maior grupo de africanos que chegou ao recôncavo baiano foi o sudanês, vindos de etnias como os iorubas ou os nagôs.

"Costumo dizer que o Brasil é um país negro com contribuições outras. Vamos pegar o mapa do Brasil e olhar para contribuições diversas culturais.Quando a gente resolve marcar com contribuição africana e depois com contribuição dos afrodescendentes ao longo desse século, a gente vai marcar o mapa todo”, fala o coordenador do museu afro-brasileiro, Marcelo Cunha.

É na Bahia que encontramos essa presença de forma mais marcante. Os primeiros negros que chegaram ao Brasil desembarcaram no porto de Salvador. O maior grupo de africanos que chegou no recôncavo baiano foi o sudanês vindos de etnias como os iorubas ou os nagôs.

Só na Bahia os afrodescendentes representam hoje mais de 80% de toda a população. "O principal é estarmos num contexto em que somos maioria e que não temos que nos encolher. Nós estamos na cidade inteira, na capital e em muitas cidades chegamos ao ponto de constituir 92%, 96% da população, por exemplo, nas cidades do recôncavo”, explica Vilma Reis, professora da UNEB e membro do SEAFRO.

Nessas cidades que a gente encontra os traços mais fortes da tradição africana e dos descendentes dos nagôs. É o caso do grupo cultural "Nego Fugido". No distrito de Santo Amaro, na comunidade de Acupe, eles relembram a história e a luta pela liberdade.

"’Nego Fugido’ é um grupo que faz um relato da luta, do sofrimento, da luta pela aquisição, da batalha dos negros pela liberdade. Agora, a história que o ‘Nego Fugido’ conta não é uma história que a gente está acostumado a ver nos livros, é uma história contada vista por essa comunidade”, diz Monilson dos Santos Pinto, diretor da Associação Cultural Nego Fugido.

No samba de roda a manifestação cultural foi reconhecida como patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. “Na língua dos índios cariri, da nação tapuia, a palavra samba já existia designando a roda de dança, depois chegam os elementos africanos e então, isso que se chama samba, como gênero musical, como forma de expressão. Vai se ‘complexificando’ ainda mais”, comenta o cantor, Gilberto Gil.

Rosildo Moreira, coordenador da Associação dos Sambadores e Sambadeiras da Bahia explica como funciona o trabalho. “A associação trabalhou com 17 grupos de samba de roda e de 2005 pra cá, a gente ja conseguiu catalogar na região 84 grupos de samba de roda, que dá cerca de 4000 pessoas trabalhando diretamente com a associação. Mas indiretamente a gente atende a região do recôncavo baiano, que é uma região formada por 800 mil pessoas, então é uma região muito forte com essa manifestação.”

O aposentado Antonio dos Santos não pretende largar o samba de roda. “Ave Maria, esse grupo eu só posso sair depois que Deus mandar me tirar. Não tem outro esporte pra mim a não ser o samba de roda.”

“Eu to tentando passar pros meus filhos. Tem uma menina que já está chegando no meu ritmo, pra quando eu for embora, na minha viagem, ela estar no meu lugar, porque não pode deixar morrer o samba”, comenta Ionice dos Santos, marisqueira.

“A sensação que nós temos ao chegar na Bahia, ao estar na Bahia, viver aqui, é de uma cultura pulsante”, diz Vilma Reis.

 
A africanidade pulsa forte também nas rodas de capoeira. Principalmente na capoeira angola da cultura bantu. “Eu acho que é muito bom que eu fui influenciado e hoje em dia eu gosto muito, amo a capoeira angola. Porque além de ser uma cultura é bom pro desenvolvimento da pessoa, um dia você pode ser um mestre, pensar nisso também”, fala Kehinde Ayodeji Guedes, aluno.

“A capoeira é um instrumento de educação muito forte em primeiro lugar. Então ele ressocializa, ele dá uma contribução muito grande pra nossa sociedade, pras comunidades. Ter uma revisão dos conceitos com as crianças, adolescentes. De uma outra forma é cultura, do nosso histórico, nossos ancestrais”, fala Mestre Faísca, professor de capoeira.

África influencia na culinária e religião do estado
Acarajé, comida de santo, candomblé. Culinária e religião são pontos fortes da Bahia.

“O branco europeu chegou aqui fazendo jejum na Semana Santa. Nós colocamos comida e muito tempero nessa semana e Semana Santa no Brasil é um momento de muita comida e celebração”, fala Vilma Reis, professora da UNEB e membro do SEAFRO.
A herança religiosa é um dos pontos altos da Bahia. No mapeamento dos terreiros de Salvador, foram registrados mais de 1.400 centros de candomblé

Herança religiosa é um dos pontos altos na Bahia
Um dos movimentos começou dentro de um terreiro de candomblé, em Salvador: o Ilê Ayê.

Dentro da política de resistência, os negros na Bahia superaram barreiras. Um dos movimentos começou dentro de um terreiro de candomblé, em Salvador: o Ilê Ayê. Da necessidade de atender crianças que estavam fora da rede pública de ensino, apareceu a escola de Mãe Hilda.

“Quando ela começou eram várias crianças de séries diferenciadas na mesma sala. Essas crianças eram filhas das pessoas do terreiro e do entorno, que era uma comunidade pequena. Com o passar do tempo, a escola foi crescendo. Continuamos com a mesma perspectiva da identidade racial, reconhecimento da criança, da história, africanidade e do valor que é ser negro”, explica Josenice Guimarães, coordenadora pedagógica da escola Mãe Hilda.

Uma presença forte na cultura baiana é a Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Ayé. O grupo desenvolve um trabalho de resgate da história dos afrodescendentes na Bahia.

Grupo Ilê Ayê capacita jovem para o mercado de trabalho
O grupo trabalha com jovens em várias oficinas e cursos profissionalizantes, formando cidadão e capacitando o jovem negro para o mercado de trabalho.

A escola de música e percussão Banda Erê surgiu como projeto de extensão pedagógica do Ilê Ayê. Hoje, o grupo trabalha com jovens em várias oficinas e cursos profissionalizantes, formando cidadão e capacitando o jovem negro para o mercado de trabalho.

Valores humanos são repassados aos jovens
Entre os valores, dois se destacam: recuperação da autoestima e valorização da beleza negra.

 
Entre os valores humanos repetidos nas oficinas e cursos do Ilê Ayê a gente destaca dois: a recuperação da autoestima e a valorização da beleza negra.

Esses valores básicos, trazidos também da pátria mãe, são repetidos nos cursos e oficinas do Ilê Ayê, como se fossem um mantra.
  • - Respeito aos mais velhos...
  • - Respeito á natureza...
  • - Respeito à religião...
  • - Bom comportamento...
  • - Solidariedade...
  • - Superação...
  • - Valorização da beleza negra.

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